sexta-feira, 20 de junho de 2008

O voo de Ícaro


Ora ca estamos de volta com mais uma historia de Albernoa...


A personagem central desta historia é alguem que vai ser chamado de Ícaro.


Para os menos instruidos, Ícaro era um Deus da mitologia grega que projetou asas, juntando penas de aves de vários tamanhos, amarrando-as com fios e fixando-as com cera. Ícaro no seu primeiro voo, indo contra as advertencias de seu pai, decidiu voar em direccao ao sol. Quando se aproximou do sol, a cera derreteu, as asas soltaram-se e ele caiu no Egeu onde morreu apos a queda.


Começando agora a historia, Ícaro era um jovem de Albernoa, nascido e criado, que tinha grande engenho. Era uma mente engenhosa no desenho e contruçao de varias "engenhocas" que faziam inveja aos demais. As vezes inventava maquinetas para as quais nem ele tinha conseguido encontrar uma utilidade, simplesmente inventava, tal como Leonardo DaVinci seculos antes... ele inventava...

Certo dia, estava Ícaro na irreverencia da sua juventude quando decidiu que era chegada a hora de inventar algo mais, criar algo em grande que o iria tornar numa lenda. O sonho era ja antigo, era algo que o acompanhara durante anos... o sonho era voar...

É certo que naquela altura ja viviamos na era do jacto, voar ja se tinha tornado em algo banal no mundo global... mas nao aqui. Aqui ainda viviamos na euforia da chegada do alcatrão, o saneamento nao tinham mais de 10 anos e a televisao era resumida a RTP1 e RTP2 cujos momentos altos eram a novela depois de jantar e, uma vez por ano, num fim de semana de maio tinhamos o festival eurovisao da cação... Por isso, e em relaçao ao voar, estavamos no mesmo patamar em que estavam os irmãos Wright em 17 de Dezembroo de 1903.


Foi então que Ícaro se enxeu de coragem e, passados meses, ja tinha o esboço da sua maquina voadora. O desenho era simples, tubos de canalização soldados seriam o "esqueleto" das asas, esqueleto esse que seria coberto por a famosa chapa de zinco. Toda a estrutura sera unida com um aparelho de soldar. É de notar que este primeiro prototipo nao contemplava a existencia de motor. A ideia seria planar, utilizando as correntes ascendentes de ar quente.


O planador estava pronto, montado e havia chegado o grande dia... Como qualquer inventor, foi Ícaro que fez o voo experimental. O local escolhido foi a "Escarpa" na zona da balança. Quanto ao voo em si nao vou escrever como correu até porque é facil imaginar... tubos de canalizaçao, chapas de zinco e correntes ascendentes de ar quente...


Ícaro foi levado para o hospital com varias escoriaçoes e fracturas.


Fica aqui a homenagem a alguem que foi o pioneiro do para-pente e asa-delta. Hoje, com o evoluir da humanidade, usam lona, e tubos extra-leves de materiais compositos...


outros tempos....


:)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

O Morto-Vivo


José Flávio era um transiunde que tinha um grande fascinio por radios, k-7's e bicicletas.

Circulava na sua "pasteleira" preta em excesso de velocidade e sempre com o radio preso ao volante com o registo sonoro "Cais do Sodré".

Zé Flávio nasceu junto a ribeira de Terges num moinho de agua no seio de um familia pobre. Anos mais tarde mudou-se com sua mãe para a zona alta, indo habitar o nº6 da famosa transversal da rua do Cerro em albernoa.

Zé Flávio era reformado, contudo trabalhava em pequenos trabalhos no campo. Naquela altura o seu melhor amigo era um rapaz (que hoje ocupa um importante cargo militar) que num determinado dia apareceu um uma bicicleta de montanha. Ao ver toda aquela mecânica, aquelas engrenagens Zé Flávio quase colapsou. Nesse dia nao pensou noutra coisa, foi para casa e nao dormiu, nao comeu... Todos os dias eram passados a imaginar aquela bicicleta brilhando, "onde irei pendurar o radio!?!?!?!", pensava ele... Contudo o dinheiro da reforma era curto para tamanho investimento.

Os dia passaram e certo dia Zé Flávio decidiu "dar o murro na mesa".... entao ofereceu-se como voluntario para carregador de palha num camião que passou aqui pela aldeia para recrutar carregadores. O contrato era simples, 2 semanas no algarve e entravam logo 20 contos em caixa. Depois de 5 segundo a estudar a proposta Zé Flávio disse logo k sim... Afinal 20 contos dava para uma boa bicicleta e ainda sobrava para umas quantas pilhas para o radio.

Foi a casa, beijo na mãe, pegou no radio, mala as costas e la foi ele, procurar o desconhecido.

Três semanas passaram e a noticia chegou, Zé Flávio havia morrido num acidente de trabalho.

O choque foi tremendo... o sino tocou, as mulheres choravam, os amigos não queria acreditar e até o famoso Cabaré Pega Rija's BAR fechou...

A familia viu-se na dolorosa tarefa de comprar o fato, os sapatos, as velas, as flores e o caixão para o pobre Zé Flávio. Passados dois dias, numa manhã de nevoeiro ouve-se um som diminuto a surgir do nada: "ai cais do sodre, pois é..." era ele... Zé Flávio imponente, qual Dom Sebastiao no seu cavalo branco, montado na sua bicicleta nova, com o seu radio mais nitido que nunca... Afinal não morreu.....

No fim de beijos e abraços, o caixão foi devolvido, as flores devolvidas foram apenas ficaram o fato (que a agência nao aceitou de volta) e os sapatos que tiveram que ser "metidos a semana".


Mais uma de Albernoa

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Um dia de Natal




Hoje vou aqui relatar a epopeia natalicia de um habitante de albernoa que, na altura dos acontecimoentos, vivia em Lisboa e decidiu vir passar o Natal com os pais a Albernoa.


Entao JL embarca dia 24 de Dezembro pela manhã no dos velhos barcos da Soflusa para fazer a ligaçao entre Lisboa e o Bareio, o grande terminal ferroviario para os sul de Portugal. JL, trazia um grande sorriso, vinha visitar a sua terra, as suas gentes. Na noite anterior tinha telefonado aos pais a pedir uma açorda de bacalhao para a consoada, a agua crescia na boca juntamente com mil e um pensamentos de uma noite de natal...


Ao chegar ao Barreiro, JL apanha o comboio Inter-Regional com destino a Funcheira (passava por Vendas Novas, Beja...). Depois de um apito agudo, o "cavalo de ferro" começa a sua marcha rumo ao sul... Acompanhando a mudança na paisagem JL começa a sentir o "cheiro" do Alentejo... Tudo tenta para encurtar as 2 horas que o separam de Beja. Lê o jornal, pega numa revista e por fim resolve adormecer. Passadas alguma horas é acordado pelo revisor...


JL acorda de sobressalto e num pestanhejar esboça um sorriso confiante porque finalmente tinha chegado. Ora ao descer do comboio o sorriso começa a esmorecer e na sua cabeça começam a nascer uns quantos (????????) porque aquela estação nao tinha nada a ver com a estaçao de Beja, que tantas vezes o vira desembarcar. Pergunta entao ao revisor o que se passava e porque nao estava ele em Beja. O revisor muito calmamente aponta para uns azuleijos na parede da estaçao que tinham uma pintura com o nome "Funcheira", com este gesto diz: "Beja ficou umas estações antes..."




JL nervoso, afinal estamos no dia 24 e sao 18horas, pergunta ao revisor se ha algum comboio para Beja. Apos um segundo de reflexão, o revisor diz que infelizmente nao ira sair um comboio da funcheira para o Barreiro, e que circule pela linha do Alentejo. Contudo no dia seguinte (dia 25 de Dezembro) passaria um comboio logo pela manhã que o poderia deixar em Beja. Desiludido JL é forçado a passar a noite de Natal na estação da Funcheira rodeado de 3 ou 4 bancos e daquele maravilhoso cheiro a caminho de ferro...


Passada a noite chega a manhã e com ela um lindo dia de sol. Poucos minutos passavam das 10 quando se ouve ao longe o ruido de uma velha locomotiva que subia o Alentejo. Eram 10:30 do dia 25 de Dezembro quando JL entra no comboio com bilhete para Beja. Dada alguma tristeza e melanculia da viagem (pois estamos a falar numa distancia de 1 hora ate Beja) JL decide encostar de novo a cabeça para descançar num comodo banco almofadado, bem diferente daquele onde tinha passado a noite.


Desta vez nao acordou uma estaçao a frente mas sim 4, na linda cidade de Vendas Novas, eram 13:45 do dia 25 de Dezembro...




Desta vez nao haviam mais comboios para sul, JL nao saboreou a açorda na consoda, mas sim umas bolachas de chocolate com um sumo. O conforto de sua cama foi trocado por um banco na estaçao da Funcheira e agora por um (do mesmo genero) na estação de Vendas Novas , e assim se passou o Natal.




No outro dia finalmente apanhou um comboio logo pela manhã vindo a chegar a Albernoa no dia 26 a tarde.




Um Natal diferente...

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

O Gesto de Joaquim Malhada


Ano novo, vida nova...


Vou agora dar inicio a este ano de 2007 com uma historia ja antiga, historia esta que tem como protagonista principal o Sr. Joaquim Malhada nos distantes anos 60.

O Sr. Joaquim Malhada era uma figura de primeiro plano na cosmopolita Albernoa dos anos 60. Era uma individuo muito respeitado e de prosa fácil, tinha sempre uma resposta pronta na ponta da lingua para dar o troco a quem quer que se metesse com ele, com intenção de tirar nabos da púcara.

Joaquim Malhada, pode-se dizer que tinha na altura uma inteligencia acima da media, numa época em que essa especie era rara.

Certo dia, estavam Joaquim e alguns amigos no largo principal de albernoa, quando se aperceberam que um avião andava as voltas lá bem alto por cima das suas cabeças. Imediatamente Joaquim Malhada percebe que o pobre piloto estava perdido. Então, num gesto de inteligência e solidariedade, levantou o braço e de dedo esticado apontou o Norte gritanto bem alto: LISBOA FICA P'RA LI!!!!!!!

Passados alguns momentos o avião desapareceu...

Duas semanas depois Joaquim Malhada recebe pelo correio (segundo ele) um envelope com 500$00 a agradecer o seu gesto solidário...

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

O Natal


A chuva cai… o vento sopra… o frio insinua-se por entre as muitas camadas de roupa… em alguns países as ruas ostentam, orgulhosas, gélidos mantos de neve… Falo e as minhas palavras morrem em vapor… Dezembro chegou…

As ruas estão vestidas de festa… cantam melodias de sempre… e invariavelmente a mesma mistura de pessoas de sempre e de nunca carregadas de sacos cheios de presentes e de sonhos… O Natal já não tarda…

Adoro esta época do ano… está frio lá fora, mas o calor humano que se sente por entre a multidão é maior que em qualquer outra altura do ano… as ruas estão vivas, os sorrisos dançam na cara de transeuntes que, embora não se conheçam de lado nenhum, se sentem mais próximos uns dos outros… as montras das lojas vestem de gala… qual de entre elas a mais tentadora… os pinheiros luzem e as suas cores escoam por entre janelas entreabertas pintalgando a noite escura… acordando memórias de outros tempos quando a nossa inocência de crianças ainda acreditava no Pai Natal que descia a chaminé a coberto das horas de sono dos meninos do mundo…

A alegria é quase palpável… o entusiasmo de encontrar a prenda ideal para alguém especial… o olhar brilhante de alguém que desembrulhou o sonho de um ano de espera… as gargalhadas das crianças… o poder de milhões de sonhos que se renovam a cada ano que passa… a possibilidade de vivê-lo… de poder partilhá-lo com amigos, com família e até com estranhos… o poder de fechar os olhos e querer acreditar que o mundo ainda tem remédio… Para mim é esse o significado do Natal… talvez por isso seja uma das minhas épocas preferidas do ano… o completar de mais um ciclo em esperança…


Para contemplar esta época deixo aqui uma musica cantada pelo anjo da Paz...SILENT NIGHT

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Os Óculos de "Julinho"


Nascido no final da década de setenta "Julinho" logo de pequeno (segundo os familiares mais chegados) denotava alguma dificuldade de visão, daí a sua precoce ida ao aftalmologista. Escusado será dizer que lhe enfiaram logo na cara, uns óculos, que mais pareciam os fundos de uma garrafa.

Julinho cresceu e não mais se viu livre daquelas malditas lunetas, que (segundo os familiares mais chegados) eram a possibilidade que o rapaz tinha de "enchergar" alguma coisa.

Fez a escola, depois começou a trabalhar e lá foi suportando a alegada falta de visão.

Até que um dia, já com 20 anos feitos, foi passear a Ovibeja e teve um azar dos diabos, pois no mei da confusão de um concerto musical, os seus inseparaveis óculos desapareceram...

A tristeza logo de imediato tomou conta dele, mas foi-se dissipando á medida que começou a perceber que afinal via agora muito melhor.

Hoje ja tem 27 anos, vê lindamente e só agora percebeu que afinal usou oculos 20 anos sem ter necessidade deles.

Afinal os familiares mais chegados e o oftalmologista estavam mais cegos que ele...

sábado, 9 de dezembro de 2006

Saudade de um regresso.


Hoje nao vou contar uma daquelas historias que tornam esta terra tão especial...
Vou contar uma historia, que provavelmente é comum a todos os alentejados que, por um motivo ou outro, tiveram que partir....
Hoje senti uma alegria muito grande em "chegar". Afinal é a minha terra e aqui estao milhoes de memorias que ao longo dos anos me vieram acompanhamdo. No fundo foi apenas mais uma viagem que fiz de Lisboa para Albernoa mas no fundo penso que é muito mais que isso. É um regresso necessario e natural, tal como uma ave volta a cada ciclo primaverial, também eu volto (se bem que, felizmente, os meus ciclos sao bem mais pequenos).
Como qualquer um que partiu penso que seria bom um dia poder voltar e ficar defenitivamente e hoje senti especialmente quando vi surgir a minha linda terra...
E no seguimento de tudo isto surgiu-me esta musica que, quanto a mim, representa o sentimento de todos os alentejanos que, tal como eu, tiveram que partir um dia.
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Quando um homem esta sozinho no seu monte,
Bem no meio da Natureza
Escutando a agua a entoar no meio da fonte,
É dono de uma riqueza.
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Ai que saudades que eu tenho de outr'ora
Quando a vida me obrigou,
A deixar o meu montinho,
A ir embora.
O meu coração chorou...
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Já não oiço os passarinhos,
Já não me sento a lareira,
Já não bebo os meus copinhos,
Já não vou domingo a feira.
Só não perco o meu cantar,
Porque está dentro de mim,
Não me o conseguem tirar,
O meu montinho é assim.
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Apaguei o candeeiro,
Fechei a porta.
Disse adeus ao cão pastor.
Pus a manta ao ombro e fui pela estrada fora,
Procurar vida melhor.
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Já corri o mundo inteiro a trabalhar,
Para ganhar o meu pão.
Esqueço sempre quando mudo de lugar,
Só o meu montinho é que não.

Aqui fica a musica: Montinho